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O que é opioide e por que esse remédio causa vício?

16 de janeiro de 2024

Com efeito analgésico e sedativo, classe de medicamentos pode levar à dependência química

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Entenda o que é opioide

Nos últimos anos, vários países estão sofrendo com uma série de overdoses e mortes causadas por medicamentos utilizados, inicialmente, no tratamento da dor. Os números assustam: segundo pesquisa divulgada pela Universidade da Califórnia em Los Angeles (Ucla), 300 pessoas morrem por dia nos Estados Unidos devido ao uso de fentanil, opioide considerado 50 vezes mais potente que a heroína.

Os opioides, como são conhecidas todas as substâncias derivadas da papoula de ópio, são analgésicos e sedativos extremamente potentes, que também provocam uma sensação exagerada e momentânea de bem-estar. Por conta disso, se tornam suscetíveis ao uso recreativo e indevido, levando facilmente à dependência e ao vício.

Existem vários tipos de analgésicos opioides, que também podem ser chamados de opiáceos. Geralmente são prescritos para dores moderadas ou extremas, quando analgésicos comuns, como paracetamol ou ibuprofeno não conseguem controlar a aflição do paciente. Exemplos comuns incluem a dor após cirurgias ou acidentes de carro e no tratamento de câncer.

Se forem usados apenas para tratar um episódio breve de dor intensa, há poucas chances dos opioides causarem dependência química. No entanto, se um paciente utilizar esses medicamentos durante muito tempo para cuidar de dores crônicas, o risco de vício aumenta.

Como esses medicamentos afetam o nosso corpo e quais são os efeitos?

Os opioides se conectam aos receptores específicos presentes no cérebro, na medula espinhal, no intestino e em outras regiões do corpo. Desse modo, conseguem mudar a maneira com que o paciente sente a dor, causando efeito analgésico.

Também alteram a forma com que a dor é sentida, além de aumentar a resistência à dor. Outro efeito muito comum é uma sensação profunda de euforia: a pessoa passa a ter um sentimento potente de contentamento, felicidade e bem-estar. Em alguns casos, também pode apresentar agitação.

Quais são os tipos de opioides?

É possível classificar esses remédios da seguinte forma:

  • Opioides fracos: como a codeína e a di-hidrocodeína
  • Opioides fortes: como tramadol, fentanil, morfina, oxicodona e metadona

Mesmo que os opioides estejam classificados da mesma forma, eles podem variar em força e efeito. O fentanil e a morfina, por exemplo, são considerados muito mais potentes do que o tramadol.

A prescrição depende dos sintomas apresentados pelo paciente, das características e da intensidade da dor, além das análises médicas.

Quem pode precisar de opioides para aliviar a dor?

Os opioides são prescritos para pessoas que apresentam dores momentâneas (quadros agudos) ou crônicas.

As dores agudas geralmente são resultantes de traumas ou acidentes, que ocorrem ao cair, bater alguma parte do corpo ou quebrar um osso. Repentinas e de breve duração, são solucionadas quando o problema que as geram é resolvido. Esse tipo de dor também pode resultar de:

Já as dores crônicas se repetem ou duram mais de três meses. Geralmente estão associadas a doenças crônicas, como:

Efeitos colaterais comuns dos opioides

Assim como qualquer tipo de medicamento, os opioides causam efeitos colaterais. Quanto mais forte for o opiáceo, a tendência é que os sintomas indesejados sejam piores. Isso inclui:

  • Sonolência e cansaço
  • Náuseas e vômitos
  • Tontura e desmaios
  • Constipação intestinal (dificuldade em evacuar)
  • Alucinações e outras alterações mentais, como pesadelos
  • Confusão mental (principalmente em idosos)
  • Coceira (prurido)
  • Rubor facial (vermelhidão súbita da pele)
  • Respiração lenta
  • Dificuldade para urinar

O uso prolongado de opioides pode causar tolerância. Ou seja, o remédio deixa de funcionar tão bem quanto no início e a pessoa passa a precisar de uma dose mais alta para tratar a dor.

Com o tempo, a tolerância é capaz de levar à dependência química.

Riscos e consequências da dependência de opioides

Um dos maiores problemas quanto à prescrição médica de opioides é a tolerância e a dependência química. É importante dizer que estar dependente do medicamento não significa que o paciente está viciado, mas sim que ele pode apresentar sintomas de abstinência caso o uso seja interrompido repentinamente.

As crises de abstinência são caracterizadas por:

Diferença entre vício e dependência química: a linha tênue entre o uso analgésico e recreativo

A dependência está ligada à necessidade do corpo físico ou mental de ter contato com as substâncias opiáceas. Isso pode acontecer, inclusive, com qualquer paciente que utilize as doses prescritas pelo médico, sem apresentar qualquer indício de abuso.

Nesses casos, o indivíduo continua tomando a medicação para não ter sintomas de abstinência e, também, para aliviar as dores que sente (as mesmas que levaram ao uso inicial do opioide). É possível tratar a dependência química com a diminuição gradual das doses, fazendo com que o organismo se acostume aos poucos.

O vício, por outro lado, é um desejo excessivo e praticamente incontrolável em ter os efeitos dos opioides no corpo. Trata-se de um comportamento compulsivo, em que a pessoa pode deixar de pensar nas consequências dos seus atos, muda a sua postura e fica em constante procura pela droga.

Indivíduos viciados tendem a aumentar as doses por contra própria e escalonar os tipos de opioides utilizados. Por exemplo, a pessoa pode iniciar tomando codeína e partindo para o uso de drogas mais fortes, como morfina ou fentanil, considerado o opioide mais potente disponível para seres humanos.

Nesses casos, muitas vezes continuam sentindo desejo pelos opiáceos mesmo após a diminuição das doses. O vício é considerado uma condição psiquiátrica, que deve ser tratada por meio de reabilitação.

Overdose e mortes: por que os opioides preocupam?

O uso indiscriminado de opioides potentes, sobretudo o fentanil e a heroína (que também é uma classe de opiáceos, embora não seja legalizada) leva a quadros de overdoses.

Vários países estão sofrendo com a crise causada por essas drogas, em especial os Estados Unidos. De acordo com órgãos de saúde estadunidenses, em 2022, o país atingiu a marca de 100 mil mortes por overdose, sendo que 66% dos casos foram causados pelo abuso de fentanil.

No Brasil, ainda não há dados que confirmem uma possível crise causada por esses medicamentos. No entanto, pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) alertam para o crescimento da demanda por opioides sintéticos dentro e fora das farmácias. Em outro estudo feito pela própria Fiocruz, foi revelado que cerca de 4,4 milhões de pessoas fizeram o uso de opioides sem prescrição médica.

Como buscar ajuda para dependentes e viciados em opioides?

Pessoas viciadas em opioides precisam procurar ajuda especializada para voltar a viver bem e sem a fissura pela droga. A melhor maneira é por meio de uma reabilitação segura, que envolva terapias comportamentais com psicólogos e psiquiatras, e a prescrição de remédios que combatam os sintomas de abstinência.

Pacientes com dependência dos opiáceos devem consultar o médico que prescreveu a medicação para fazer um acompanhamento e diminuir as doses gradualmente.

Overdoses causadas por essas substâncias podem ser revertidas pela aplicação imediata de um medicamento chamado naloxona. Esse remédio se conecta aos receptores e bloqueia o efeito dos opiáceos. Caso você presencie uma suspeita de overdose, o recomendado é ligar para um serviço de emergência médica.

Os opioides são vilões?

Embora ofereçam chances de dependência, os opioides não podem ser considerados vilões. Esses remédios ajudam diariamente quem sofre com quadros graves de dores, estabelecendo maior qualidade de vida e mais normalidade ao dia a dia desses pacientes.

Para evitar se tornar dependente da medicação, o melhor a se fazer é seguir as prescrições recomendadas pelo médico e não alterar as doses por conta própria. Caso sinta que os efeitos estão diminuindo, procure o profissional para que ele analise o que deve ser feito.

Além disso, ninguém deve fazer o uso recreativo de opioides, pois as consequências são extremamente sérias, podendo levar à morte.

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Escrito por Vale Saúde

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