Anamnese: a parte mais importante da medicina

O que é anamnese?

A anamnese é uma entrevista feita entre o profissional de saúde e o paciente, visando obter informações sobre doenças, sintomas, antecedentes e hábitos de vida dele, além de estabelecer uma relação de confiança e empatia. A palavra vem do grego anámnesis, que significa “recordação, memória, reminiscência”.

É composta por vários tópicos, como identificação, queixa, história da doença atual, interrogatório sistemático, antecedentes pessoais e familiares, hábitos de vida e história psicossocial. Esses tópicos são registrados em uma ficha de anamnese, um documento médico que facilita o acompanhamento e a avaliação do paciente.

Pode ser realizada por diferentes profissionais de saúde, como médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos, dentistas, entre outros. Cada profissional tem sua própria forma de conduzi-la, em função de sua área de atuação e os objetivos da consulta.

É considerada a parte mais importante da medicina, por ser a base para o raciocínio clínico e a conduta terapêutica. Uma anamnese bem-feita pode evitar erros diagnósticos e complicações desnecessárias, além de melhorar a qualidade de vida e a satisfação do paciente.

Quais são os tipos de anamnese?

Existem três tipos de anamnese, em função da forma como o profissional conduz a entrevista:

1.Anamnese ativa ou direta: o profissional faz perguntas específicas e direcionadas ao paciente, buscando obter as informações mais relevantes para o caso. Esse tipo é mais rápido e objetivo, mas pode limitar a expressão do paciente e deixar escapar alguns dados importantes

2.Anamnese passiva ou indireta: o paciente fala livremente, sem interrupções ou direcionamento. Esse tipo é mais demorado e abrangente, mas fornece informações mais completas e espontâneas, além de favorecer a relação de confiança e empatia

3.Anamnese mista: combina os dois tipos anteriores, iniciando com uma anamnese passiva e complementando com uma ativa. Esse tipo é considerado o mais adequado por permitirao profissional obter as informações necessárias sem prejudicar a comunicação e a expressão do paciente

Quais são as etapas da anamnese?

As etapas da anamnese variam conforme a especialidade e o objetivo da consulta, mas seguem, geralmente, a seguinte ordem:

• Identificação do paciente: registro dos dados pessoais do paciente, como nome, idade, sexo, gênero, cor/etnia, estado civil, ocupação, escolaridade, religião, naturalidade, procedência e grau de confiabilidade
• Queixa principal: qual é a motivação que levou o paciente a procurar o atendimento, qual é o problema que quer resolver ou qual é o sintoma com que mais se incomoda. A queixa principal deve ser registrada com as palavras do próprio paciente, entre aspas, e seguida pelo tempo de duração
• História da doença atual: aprofundamento da queixa principal, investigando as características, a evolução, os fatores desencadeantes, os fatores de melhora e piora, os tratamentos prévios e os resultados obtidos. Nesta etapa, o profissional de saúde deve se atentar ao caráter, cronologia, quantidade, qualidade, circunstâncias, localização, irradiação e sintomas associados a doença
• Interrogatório sistemático ou sintomatológico: entendimento sobre os principais sintomas relacionados aos diferentes sistemas e aparelhos do organismo, como respiratório, cardiovascular, digestivo, urinário, genital, endócrino, neurológico, osteomuscular, dermatológico e psiquiátrico. Esta etapa possibilita detectar possíveis alterações que não foram mencionadas na queixa principal ou na história da doença atual
• Antecedentes pessoais e familiares: conhecer e entender o histórico médico, incluindo doenças prévias, cirurgias, alergias, medicamentos em uso, vacinações, hábitos de vida e exposição a agentes nocivos. Também consiste em perguntar sobre o histórico médico dos familiares de primeiro e segundo grau, buscando identificar possíveis doenças hereditárias, congênitas ou familiares
• História psicossocial: quais são as condições socioeconômicas e culturais do paciente, como renda, moradia, trabalho, educação, lazer, relacionamentos, crenças, valores e expectativas. Esta etapa permite avaliar o impacto dos fatores psicossociais na saúde e na doença, bem como para estabelecer uma relação de confiança

Como a anamnese é usada em diferentes especialidades médicas?

Cada especialidade médica pode ter um modelo de anamnese específico, conforme as características e necessidades de cada área. Confira alguns exemplos abaixo:

• Clínica geral: na medicina geral, é usada para obter informações detalhadas sobre a saúde atual e passada do paciente, antecedentes familiares, hábitos de vida, sintomas atuais e passados, entre outros. Isso ajuda a orientar o diagnóstico e o plano de tratamento
• Psiquiatria e Psicologia: é essencial para entender a história psicossocial do paciente, incluindo experiências traumáticas, história familiar de doenças mentais, comportamentos, emoções e pensamentos. Isso auxilia no diagnóstico de transtornos mentais e no desenvolvimento de planos de tratamento individualizados
• Pediatria: não apenas abrange a história médica da criança, mas também questões sobre o desenvolvimento, marcos do crescimento, comportamento, alimentação, histórico vacinal, entre outros aspectos importantes para avaliar a saúde infantil
• Ginecologia e Obstetrícia: aqui, se concentra na saúde reprodutiva da paciente, incluindo histórico menstrual, gravidez, condições obstétricas e ginecológicas, contracepção e saúde sexual
• Neurologia: visa identificar sintomas como dor de cabeça, tontura, distúrbios motores ou sensitivos, distúrbios de memória e outras questões neurológicas específicas que auxiliam na diferenciação de doenças do sistema nervoso
• Cardiologia: é crucial para avaliar fatores de risco cardiovascular, como histórico familiar de doenças cardíacas, hipertensão, diabetes, colesterol alto, tabagismo, além de sintomas como dor no peito, dispneia, palpitações, entre outros

Qual a relação entre a anamnese e os exames clínicos e laboratoriais?

São ferramentas essenciais para o diagnóstico médico, mas devem ser usados de forma complementar e racional.

Os exames clínicos e laboratoriais são testes que avaliam o funcionamento dos órgãos, sistemas e tecidos do corpo, bem como a presença de agentes infecciosos, inflamatórios ou tumorais.

Eles podem confirmar ou descartar hipóteses diagnósticas geradas pela anamnese, bem como monitorar a evolução e a resposta ao tratamento. Devem ser selecionados e interpretados conforme a entrevista e a apresentação clínica do paciente, evitando a solicitação de testes desnecessários ou irrelevantes.

Todos são partes integrantes do processo de diagnóstico, mas não devem ser vistos como substitutos um do outro. Uma anamnese bem-feita pode orientar a escolha dos exames mais adequados para cada caso, e os resultados dos exames devem ser analisados à luz da anamnese e de outros fatores relevantes. Assim, o profissional de saúde pode chegar a um diagnóstico mais preciso e oferecer um tratamento mais eficaz e seguro ao paciente.

Como posso contribuir para a qualidade da anamnese e do diagnóstico médico?

Você pode contribuir de várias formas. Veja como:

• Prepare-se para a consulta médica com antecedência: leve seus documentos, exames, medicamentos e uma lista de perguntas que deseja fazer ao médico
• Seja honesto e completo ao responder às perguntas do médico: não omita, nem invente informações que interfiram no diagnóstico e no tratamento
• Colabore com o médico: forneça informações relevantes sobre a sua queixa principal, a história da sua doença atual, os seus antecedentes pessoais e familiares, os seus hábitos de vida e a sua história psicossocial
• Ouça atentamente e anote as orientações: esclareça as suas dúvidas e siga as recomendações sobre o uso de medicamentos, a realização de exames, os cuidados com a saúde e a prevenção de doenças
• Estabeleça uma relação de confiança e empatia com o médico: expresse os seus sentimentos, expectativas, medos e angústias, e respeite o seu tempo, a sua opinião e a sua conduta

Essas atitudes ajudam em uma anamnese mais completa e um diagnóstico mais preciso, além de melhorar a sua qualidade de vida e a sua satisfação com o atendimento médico.

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