Psicofobia: preconceito afeta pacientes com transtornos mentais
06 de maio de 2025
Estigmas sobre a saúde mental são capazes de afetar tratamentos e agravar diagnósticos.

Temas que tratam da saúde mental crescem a cada dia no Brasil. Entre o aumento de diagnósticos, a psicofobia, definida pela discriminação contra pacientes com transtornos ou deficiências mentais, também se torna uma pauta importante.
Dados do Ministério da Saúde afirmam que 30% da população brasileira apresentará algum tipo de transtorno mental ao longo da vida. Ao mesmo tempo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que o Brasil é o país com maior índice de transtornos de ansiedade do mundo: 9,3% apresentam alguma doença do tipo.
Ainda de acordo com a OMS, a depressão afeta cerca de 5,8% dos brasileiros — mais de 11 milhões de pessoas. Segundo o Ministério da Saúde, as queixas acerca de quadros depressivos e ansiosos aumentaram mais de 80% durante a pandemia da Covid-19.
Pesquisas realizadas pelo Ministério mostram que 40% da população brasileira relatou piora na saúde mental entre os anos de 2020 e 2021.
Mesmo com tantos diagnósticos, o estigma e o preconceito, muitas vezes causados pelo desconhecimento dessas condições, têm um grande impacto no cotidiano e na qualidade de vida dos pacientes.
Nesse conteúdo, vamos falar mais sobre o que é psicofobia, os seus impactos, e como combater essa discriminação no dia a dia. Confira!
O que é psicofobia e por que é importante conhecer esse termo?
O termo “psicofobia” é antigo e, em sua origem, estava ligado ao medo ou apreensão irracional em relação à mente. Entretanto, no Brasil, foi colocado em um contexto diferente pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
Antônio Geraldo, à época presidente da ABP, adotou “psicofobia” como um neologismo para tratar do preconceito, discriminação ou intolerância contra pessoas que sofrem de transtornos mentais, psicológicos ou emocionais.
Dessa forma, o termo surgiu para dar nome a uma atitude muito comum: tratar quem enfrenta doenças mentais com desprezo, medo, desconfiança ou ridicularização.
Na história, pacientes com transtornos mentais já foram acusados de bruxaria ou de serem possuídos pelo demônio. Além disso, por muitos anos, foram tratados como um problema “sujo” da sociedade e encarcerados em manicômios.
Por isso, entender o que é psicofobia tem valores práticos: ajuda a combater o preconceito, aborda o direito à dignidade e incentiva a busca por diagnóstico e tratamento adequados.
Exemplos de psicofobia: saiba como reconhecer o preconceito
A psicofobia pode ser sutil ou explícita, mas em todos os casos causa prejuízo emocional, social e até profissional às pessoas com transtornos mentais.
Por isso, reconhecer comportamentos, como os que citaremos a seguir, é essencial para combatê-los:
Comentários pejorativos
- Chamar pessoas com depressão de “preguiçosas” ou “fracas”
- Dizer que quem tem transtornos mentais é “louco” ou “maluco” de forma negativa
- Falar frases como: “Isso é frescura, é só querer melhorar”
Minimizar ou desacreditar o sofrimento do outro
- Afirmar que “todo mundo tem problemas” e que “não é motivo para depressão“
- Sugerir que transtornos como ansiedade ou síndrome do pânico são apenas “falta de controle emocional” ou “drama”
Discriminação em ambiente de trabalho ou estudo
- Recusar contratação ou promoção de alguém por ter histórico de transtorno mental
- Demitir o colaborador por conta de um diagnóstico de transtorno mental
- Desenvolvimento de outras condições de saúde mental, como o burnout, por falta de acompanhamento, conscientização e de cuidados por parte da empresa
- Isolar ou excluir colegas que fazem tratamento psicológico ou psiquiátrico
- Impor tratamento diferenciado ou injusto a alunos com diagnóstico de transtornos, como TDAH ou ansiedade
Violência simbólica ou institucional
- Negar atendimento médico, educacional ou jurídico com base no diagnóstico mental da pessoa
- Internações compulsórias sem avaliação adequada, apenas por preconceito
Representações estereotipadas na mídia
- Filmes, séries ou notícias que retratam pessoas com transtornos mentais sempre como perigosas, violentas ou incapazes
- Piadas públicas sobre condições como esquizofrenia, transtorno bipolar ou autismo
Psicofobia é crime? Entenda a legislação do Brasil
Ainda não existe, no Brasil, uma lei que trate especificamente sobre casos de psicofobia. Porém, esse tipo de discriminação pode, sim, ser considerada crime por meio de leis mais amplas.
A Lei nº 13.146/2015 (Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência), por exemplo, considera pacientes com transtornos mentais como indivíduos com deficiência, no sentido jurídico.
O artigo 88 da lei tipifica como crime “praticar, induzir ou incitar discriminação de pessoa em razão de deficiência”. O tempo de reclusão é de 1 a 3 anos, além de multa.
A psicofobia também consegue ser enquadrada em artigos do Código Penal Brasileiro, como:
- Artigo 146 (Constrangimento Ilegal): obrigar alguém a fazer, tolerar ou deixar de fazer algo por medo ou discriminação
- Artigo 140 (Injúria): ofender a dignidade ou o decoro de alguém, inclusive com base em transtornos mentais
Impacto da psicofobia na vida de pacientes com doenças mentais
A psicofobia tem vários impactos no dia a dia de pessoas que têm transtornos psicológicos. O estigma em torno das doenças mentais atrasa o diagnóstico e o tratamento assertivo e de qualidade, já que muitas pessoas têm vergonha de procurar ajuda profissional, com medo de serem rotuladas como “loucas”.
O receio do julgamento e da rejeição também faz com que os pacientes se isolem, evitando participar de reuniões familiares ou profissionais, e de atividades sociais com amigos e colegas.
Da mesma forma, há uma grande consequência na vida profissional e acadêmica desses indivíduos. Como a psicofobia ainda está presente em processos seletivos e dentro de escolas e universidades, eles tendem a enfrentar maior dificuldade para conseguir e manter um emprego, e muitas vezes têm queda de rendimento nos estudos.
Todos esses pontos levam à piora do quadro inicial, e os pacientes podem desenvolver transtornos secundários, como transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), devido a experiências de discriminação no cotidiano.
Suicídio é a maior consequência da psicofobia
Entre todos os prejuízos causados pela psicofobia, provavelmente o maior de todos é o suicídio. O estigma social e o isolamento emocional estão diretamente conectados com as taxas de ideação suicida e de tentativas de suicídio em todo mundo.
No Brasil, o Ministério da Saúde estima cerca de 14 mil ocorrências por ano relacionadas ao suicídio. Isso significa que, diariamente, 38 brasileiros tiram a própria vida.
Esses dados vão na contramão do resto do mundo. A OMS relatou uma diminuição de 36% nos índices de suicídios em escala global. Porém, as Américas fizeram o caminho inverso. Entre os anos 2000 e 2019, a região teve aumento de 17% nos casos. Nesse período, os casos no Brasil subiram 43%.
Em números absolutos, o Brasil está entre os países com maior número de suicídios. Em 2021, foram registrados 15.507 casos, com uma taxa de 7,5 por 100 mil habitantes.
Em 2023, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou 11.502 internações relacionadas a lesões autoprovocadas, uma média de 31 por dia. Esse dado representa um aumento de mais de 25% em relação a 2014.
Como combater o preconceito e a discriminação da psicofobia?
O combate da psicofobia está ligado, principalmente, com a conscientização sobre transtornos mentais. A educação e a informação de qualidade são fundamentais para quebrar o estigma e o preconceito sobre o assunto.
Campanhas para falar abertamente a respeito do tema são muito importantes. No Brasil, a saúde mental é abordada pelas campanhas de Janeiro Branco e Setembro Amarelo. Além disso, 12 de abril é marcado como o Dia Nacional de Combate à Psicofobia.
No cotidiano, é dever de todos combater estereótipos, evitando reforçar a ideia de que pessoas com doenças mentais são perigosas, imprevisíveis ou incapazes, por exemplo.
Praticar a empatia também é essencial. Busque ouvir com atenção e sem julgamentos quem expressa sofrimento emocional e incentive sempre a busca por tratamento profissional adequado com psicólogos e psiquiatras.
Se estiver passando por um momento psicológico complicado, agende uma consulta psicológica ou psiquiátrica o quanto antes. Você também pode encontrar ajuda discando 188, número do Centro de Valorização à Vida, que recebe ligações 24 horas por dia, sem custos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Ministério da Saúde – 12/4 – Dia Nacional de Enfrentamento à Psicofobia
Ministério da Saúde – Dia Nacional de Enfrentamento à Psicofobia alerta para o cuidado com a saúde mental
American Psychiatry Association – Stigma, Prejudice and Discrimination Against People with Mental Illness
National Library of Medicine – Understanding and Addressing Mental Health Stigma Across Cultures for Improving Psychiatric Care: A Narrative Review
National Alliance of Mental Illness – The Many Forms of Mental Illness Discrimination
Mayo Clinic – Mental health: Overcoming the stigma of mental illness
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios – Psicofobia – Seu preconceito causa sofrimento

Escrito por Vale Saúde
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