Como parar de roer unha, um sinal de ansiedade e estresse
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Confira dicas para lidar com esse hábito compulsivo que afeta até 30% da população mundial.

Se você ainda não levou a ponta dos dedos à boca em algum momento de aflição, provavelmente já deve ter visualizado a agonia na expressão de quem pratica esta mania. O péssimo hábito de roer as unhas, que afeta tanto as mãos como os pés, tem como nome técnico onicofagia.
Esta ação, de forma recorrente e crônica, é frequentemente associada a questões psicológicas, como ansiedade, estresse, TDAH ou até mesmo a perturbações de ordem obsessivo-compulsiva. A Associação Americana de Psiquiatria incluiu a onicofagia na lista de transtornos obsessivo-compulsivos (TOC).
A prática ainda é capaz de ser desencadeada por tédio, nervosismo ou até mesmo por imitação (crianças que crescem assistindo seus cuidadores roendo unhas, por exemplo) ou genética.
Esse comportamento pode começar na infância e persistir na vida adulta. Além dos problemas estéticos, o hábito tem a possibilidade de levar a problemas na saúde bucal, inflamação e até infecções.
Um estudo publicado na revista científica National Library of Medicine estima que 20% a 30% da população mundial, em todas as faixas etárias, roem as unhas. Isso significa que aproximadamente 1,5 a 2,5 bilhões de pessoas têm esse hábito em todo o planeta, sendo que 45% dessa parcela são adolescentes.
Pacientes com onicofagia conseguem ser tratados com terapia comportamental, aconselhamento psicológico ou, em alguns casos, com o uso de medicamentos.
Continue a leitura para saber mais sobre os prejuízos dessa mania, formas de lidar melhor com a ansiedade e alternativas para parar de roer as unhas.
Quais são os riscos de roer unhas para a saúde?
Apesar de muitos afirmarem que roer as unhas não é um distúrbio ou uma condição de saúde, o hábito traz consequências negativas. Os dedos carregam elementos indesejáveis que conseguem se instalar na boca, um lugar úmido favorável para proliferação de microrganismos, capazes de afetar o corpo inteiro.
Até existe uma hipótese de que as pessoas que roem as unhas têm um sistema imunológico mais forte, pois introduzem aos poucos agentes estranhos ao organismo, mas é difícil provar isso.
Embaixo das unhas estão, por exemplo, bactérias como a E. coli e a salmonela. Para a Academia Americana de Dermatologia (AAD), as infecções bacterianas causadas pelo hábito de roer as unhas são um dos prejuízos mais comuns.
Roer as unhas prejudica a saúde bucal: outro problema é a deformação nos dentes ou o desgaste prematuro, aumentando o risco de fraturas. O hábito crônico ainda é capaz de levar os dentes a mudarem de posição, afetando a oclusão dental ou a própria mordida. Os riscos de doença gengival e infecção são também aumentados.
Nas infecções bacterianas causadas por Pseudomonas aeruginosa, bolsas de pus (abscessos) conseguem se desenvolver ao redor da unha (como na paroníquia) ou na ponta do dedo (chamado panarício).
Também conhecida como “unheiro”, a paroníquia é uma infecção da pele que acontece ao redor das unhas. É dolorosa e, em casos mais graves, necessita até de uma intervenção cirúrgica.
Sem drenagem cirúrgica feita a tempo, a condição leva à perda permanente da unha. Alterações crônicas são possíveis mesmo com a realização desse procedimento ambulatorial.
Infecções virais comumente incluem papilomavírus humano, que causa verrugas. Os vírus podem entrar nas unhas através de pequenas áreas de lesão ao redor da unha.
Essas infecções são difíceis de erradicar e se espalham facilmente entre os dedos das mãos e dos dedos das mãos para a boca e os lábios. As verrugas são desagradáveis e incômodas.
É preciso evitar roer ou comer as unhas, para reduzir o risco de infecções orais e intestinais.
Confira quais são os patógenos (agentes biológicos infecciosos) encontrados nas unhas sujas:
- Staphylococcus aureus: é uma das bactérias mais presentes na unha, na pele e no corpo de pessoas, segundo os estudos. No entanto, uma de suas variantes, a MRSA, é perigosa, pois é resistente a alguns tipos de antibióticos, o que dificulta o tratamento das infecções geradas. A MRSA é transmitida pelo contato direto com uma pessoa infectada ou em alimentos e objetos com o microrganismo. Alguns dos sintomas são furúnculos e abscessos.
- Bacillus cereus: bactéria bastante comum, está em diversos tipos de ambientes, como solo, vegetação, superfícies de cozinha e poeira. Também encontrada em alimentos crus e processados, é capaz de produzir toxinas que causam doenças gastrointestinais, com presença de diarreia e vômitos, de acordo com o Instituto Nacional da Saúde dos Estados Unidos.
- Trichophyton: é um dos fungos que provocam onicomicose, conhecida como a micose das unhas. Eles prosperaram em ambientes úmidos e sujos, causando unhas descoloridas, espessas e quebradiças. Essas infecções não somente são difíceis de tratar, mas ainda conseguem se espalhar para outras áreas do corpo e para outras pessoas.
- Ascaris lumbricoides: diversas pesquisas demonstram a presença de ovos desse verme conhecido como “lombriga” nas unhas de crianças e adultos. Se um indivíduo tem mania de roê-las, esses ovos podem cair no sistema digestivo e causar ascaridíase, cujos principais sintomas são dor abdominal, redução do apetite e fraqueza.
- Papilomavírus humano (HPV): já encontrado nas estruturas que protegem as extremidades dos dedos, gera verrugas nas mãos e unhas. A transmissão do vírus se dá predominantemente por via sexual, mas é possível ocorrer também por perfuração ou corte com objetos contaminados.
Quais são as complicações para as unhas?
Além dos prejuízos estéticos, roer as unhas (onicofagia) normalmente não causa problemas sérios ou duradouros, a menos que o leito ungueal seja lesionado. Ainda assim, existem algumas complicações capazes de serem desenvolvidas, como alterações na textura da unha, na forma ou ambas (distrofias).
Infecções (bacterianas, fúngicas e/ou virais) normalmente são resultantes de pequenas áreas de trauma e danos à unha.
Distrofias surgirão se o hábito crônico de roer a unha interromper a unidade ungueal, o que geralmente causa inflamação da matriz ungueal. As unhas desenvolvem sulcos horizontais, depressões e áreas salientes, e roê-las por períodos prolongados consegue levar ao encurtamento permanente.
As cutículas quase sempre são danificadas, rompendo a “vedação” impermeável da unha, fazendo com que ela se afine e descasque, aumentando o risco de infecção. Ainda é possível que cicatrizes interfiram na matriz e cutículas, tornando a distrofia irreversível.
As infecções fúngicas, tipicamente com a levedura Candida, são muito comuns e podem ocorrer entre pessoas que fazem a unha (manicure) com muita frequência.
A condição geralmente gera inchaço das pregas ungueais e leve distrofia ungueal e, às vezes, a separação parcial da placa ungueal do leito ungueal ou a perda completa da placa ungueal (onicólise).
A lesão crônica das cutículas, unhas e da pele circundante leva a uma inflamação crônica, através da qual as infecções são capazes de entrar nas unhas.
Medicamentos antimicóticos (para fungo) aplicados diretamente nas unhas (uso tópico), muitas vezes combinados com um corticoide tópico, são geralmente um tratamento eficaz, caso a pessoa deixe de roê-las.
Como parar de roer unha: primeiros passos para o autocontrole
Para muitas pessoas, o hábito de roer unhas é leve, e um simples aconselhamento de um médico sobre as possíveis complicações (que os pacientes muitas vezes não sabem) consegue encorajá-las a tentar parar, porque alguns envergonham-se do comportamento.
As técnicas de mudança de hábito incluem a aplicação de esmaltes que têm gosto ruim, frequentar a manicure semanalmente, manter as unhas curtas e lixadas, testar o uso de unhas postiças ou de gel, mascar chicletes, brincar com uma bola antiestresse ou um elástico, encontrar um hobby prazeroso ou outros métodos de driblar o nervosismo.
O comportamento de roer unhas grave ou obsessivo pode ser um sinal de um distúrbio psicológico ou um transtorno de ansiedade. Esses indivíduos devem ser avaliados por um profissional de saúde mental.
Dicas para pais: como ajudar crianças que roem unhas
Roer as unhas é um problema comum entre crianças pequenas. O hábito em geral desaparece à medida que elas crescem, mas está normalmente relacionado ao estresse e à ansiedade.
Para motivá-las a parar, uma alternativa é ensiná-las a substituir esse hábito por outros hábitos (por exemplo, girar um lápis entre os dedos). Um sistema de recompensas, no qual a criança ganha mais recompensas por evitar a prática, reforça o comportamento desejável.
É importante estar atento aos seguintes sinais que indicam ansiedade em crianças:
- Mudanças de comportamento repentinas, como irritabilidade demasiada, agitação ou agressividade
- Preocupações excessivas e persistentes, medos irracionais ou pesadelos frequentes
- Dificuldade de concentração e problemas de sono, como insônia ou pesadelos frequentes
- Sintomas físicos (dores de cabeça, dores de estômago ou náuseas) sem causa médica aparente
- Preocupação excessiva com o desempenho escolar, medo de errar e perfeccionismo
- Isolamento social e dificuldade em interagir com outras crianças
- Comportamentos de evitação, como recusar-se a participar de atividades escolares ou extracurriculares
- Comportamentos repetitivos, como roer unhas, balançar as pernas ou bater palmas constantemente
Nesses casos, é fundamental procurar a ajuda de um psicólogo ou psiquiatra para o correto diagnóstico e as melhores orientações de tratamento, como opções para lidar com esse hábito crônico. Encontre um especialista perto de você!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Manual MSD – Lesão nas unhas das mãos e dos pés
Ministério da Saúde – Hábito de roer as unhas (onicofagia)
Sociedade Brasileira de Dermatologia – Roer unhas pode ser sinal de compulsividade, alerta especialista

Escrito por Vale Saúde
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