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60%O berne, também conhecido como miíase furunculoide ou “bicheira”, é uma infecção parasitária causada pela larva de certas espécies de moscas (mosca-do-cão ou varejeira, por exemplo).
Essas moscas depositam seus ovos na pele ou orifícios (olhos, nariz, ouvidos, ânus, vagina etc.) do hospedeiro.
Quando as cascas dos ovos se rompem, a larva penetra no organismo e se desenvolve naquela região, se alimentando dos tecidos subcutâneos por um período que varia entre 30 e 60 dias. Após esse tempo, a larva sai espontaneamente para completar seu ciclo de vida no solo.
Apesar de provocar dor, inflamação e desconforto, o berne geralmente não é fatal, mas exige cuidados para evitar infecções secundárias e complicações.
Quais são os tipos de berne?
O berne é classificado em três tipos, de acordo com a forma que os ovos são depositados no hospedeiro:
Miíase primária
A furuncoloide, como também é conhecida, ocorre quando os ovos das moscas, especialmente as varejeiras (Dermatobia hominis), são depositados na pele íntegra de pessoas ou animais.
O termo berne está ligado a uma lesão semelhante a um furúnculo. Nesses casos, apenas uma ou poucas larvas adentram a pele, causando um pequeno buraco por onde flui secreção amarelada ou com sangue, e que permite a respiração do parasita.
Os bernes podem aparecer em qualquer região do corpo humano, mas são mais comuns nas pernas, braços e couro cabeludo. Caso não sejam extraídos, após cerca de 60 dias elas caem ao solo espontaneamente.
Miíase secundária
Nessa situação, os ovos (entre 200 e 300) são depositados em feridas abertas, mucosas e cavidades ulceradas (globo ocular, ouvidos e narinas).
Costuma ser causada pelas moscas Cochliomyia hominivorax e Callitroga macelaria. Assim que os ovos eclodem, passam a se alimentar de tecido vivo ou necrosado que encontram no local.
Popularmente conhecida como bicheira, a miíase secundária pode ser cutânea (quando as larvas conseguem ser vistas na superfície das feridas) ou cavitária (quando os parasitas se instalam em orifícios como ânus, vagina, nariz etc.).
Se não houver tratamento, a infecção progride e os vermes consomem os tecidos até chegar aos ossos. É mais comum em pessoas que vivem em condições precárias de saúde e higiene.
Miíase intestinal ou acidental
É um tipo menos comum, que ocorre quando acidentalmente o indivíduo ingere alimentos ou água contaminados com ovos ou larvas de moscas.
Nesses casos, os sintomas são gastrointestinais ao invés de dermatológicos, e incluem diarreia, dor abdominal, náuseas e vômito e sensação de algo se movendo dentro do trato digestivo. Em quadros mais graves, ainda surgem fezes com sangue e febre alta.
Quais são os principais sintomas?
Os principais sintomas de miíase primária e secundária são:
- Presença de uma lesão inflamada, semelhante a um furúnculo, geralmente com um pequeno orifício central (por onde a larva respira)
- Dor local que frequentemente aumenta com o movimento da larva
- Sensação de algo se mexendo sob a pele, principalmente em estágios mais avançados
- Inchaço, vermelhidão e calor na região afetada
- Secreção serosa (líquido claro e aquoso) ou purulenta (espessa e amarelada ou esverdeada), que sai pelo orifício central
Em alguns casos, surgem febre leve e mal-estar, especialmente se houver infecção secundária. Em crianças e animais, é comum haver irritabilidade ou coceira intensa.
Quais são as causas do berne?
Todos os tipos de berne são causados pela contaminação por larvas de moscas.
No entanto, há uma curiosidade sobre as moscas varejeiras: as fêmeas não colocam os ovos diretamente no ser humano ou em animais. Ao invés disso, os depositam em outras moscas (como as domésticas).
Quando a mosca vetor pousa em um hospedeiro, os ovos eclodem e as larvas penetram na pele através de pequenas feridas ou até de pelos.
Esse processo é chamado de transmissão indireta. Ele explica por que a infestação ocorre mesmo que o indivíduo nunca tenha visto uma mosca “berneira”.
A maior incidência de contaminação ocorre em áreas rurais e em regiões de clima quente e úmido, em que há contato frequente com animais ou exposição ao ar livre.
Quais são as complicações da infecção por berne?
Algumas complicações são capazes de ocorrer se a larva não for retirada corretamente ou se houver demora no tratamento. Confira alguns exemplos:
Infecção secundária
Quando a área infestada pela larva é manipulada inadequadamente ou não recebe os cuidados de higiene necessários, bactérias podem invadir a pele, levando a uma infecção local e causando:
- Aumento da dor e da inflamação
- Pus intenso
- Mau cheiro
- Formação de abscesso (bolsa de pus)
- Febre alta
Reação inflamatória exagerada
A presença prolongada da larva no tecido subcutâneo consegue desencadear uma resposta inflamatória mais intensa do sistema imunológico.
Isso pode levar à necrose local (morte do tecido), endurecimento da pele ou formação de cicatrizes mais profundas após a retirada do parasita.
Ruptura da larva dentro da pele
Quando a larva é esmagada ou retirada de forma incorreta (especialmente em tentativas caseiras), muitas vezes partes do seu corpo permanecem dentro da pele.
Isso resulta em uma resposta inflamatória severa, com formação de granulomas (nódulos inflamatórios) ou até infeções crônicas no local.
Complicações funcionais e estéticas
Em casos em que a lesão ocorre em locais como rosto, couro cabeludo, pálpebras ou articulações, é possível que aconteçam:
- Alterações estéticas visíveis
- Restrição de movimentos (se acometer tendões ou articulações)
- Queda de cabelo local (quando afeta o couro cabeludo)
Casos raros e graves
Em situações muito incomuns (pessoas imunossuprimidas ou com higiene precária extrema, por exemplo) a larva consegue migrar para estruturas mais profundas, como músculos ou cavidades corporais, gerando complicações graves, como:
- Destruição de tecidos faciais
- Sinusite infecciosa grave
- Otite média ou interna
- Perda da audição ou visão
- Infecção óssea (osteomielite) do crânio ou face
- Sepse
- Necrose tecidual
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico do berne é basicamente clínico, ou seja, feito com base na observação da lesão e nos sintomas relatados pelo paciente.
O médico, dermatologista ou clínico geral, identifica a presença da larva a partir de sinais típicos, como:
- Lesão inflamada com orifício central visível
- Mobilidade da larva sob a pele (muitas vezes é possível ver seu movimento)
- Presença de secreção fétida ou bolhas de ar saindo do orifício (quando a larva respira)
Em alguns casos, pode ser necessária a realização de ultrassonografia em partes moles para confirmar a presença da larva, especialmente se ela estiver muito profunda ou se a lesão não for clara.
Berne tem cura? Como é feito o tratamento?
Sim, o berne tem cura, e o tratamento costuma ser simples, sobretudo quando feito de forma precoce.
As abordagens incluem:
Extração manual da larva
É o método mais comum e eficaz.
Deve ser feito por um profissional de saúde para evitar rupturas da larva dentro da pele, capazes de causar infecção e reação inflamatória grave.
Após a extração, o local é higienizado e, se necessário, é feito curativo com pomadas antibióticas.
Uso de substâncias que obstruem o orifício
Substâncias como vaselina, gordura, esparadrapo ou até toucas impermeáveis podem ser colocadas sobre a lesão.
O objetivo é interromper o acesso ao oxigênio, fazendo com que a larva tente sair.
Quando ela emerge, é possível retirá-la com pinça esterilizada.
Tratamento medicamentoso
Em casos de múltiplas infestações, é indicado usar medicamentos antiparasitários orais, como a ivermectina, sob prescrição médica.
Antibióticos podem ser necessários se houver infecção secundária.
Cuidados pós-retirada
É essencial manter a ferida limpa e protegida até a cicatrização total.
Pomadas antibióticas e curativos ajudam a prevenir complicações. No entanto, lembre-se de sempre seguir as recomendações do médico.
Existem maneiras de prevenir a infecção por berne?
Sim, a prevenção do berne é possível e especialmente importante para pessoas que vivem ou trabalham em áreas rurais. As principais medidas incluem:
Proteção individual
- Usar roupas de manga comprida, calças e sapatos fechados ao caminhar por áreas de mata ou pastagem
- Aplicar repelentes de insetos regularmente, inclusive sobre as roupas
- Evitar dormir ou descansar ao ar livre sem proteção, principalmente em regiões tropicais
Higiene e cuidados com feridas
- Manter a pele sempre limpa e seca
- Tratar qualquer ferida ou lesão aberta imediatamente e protegê-la com curativo
Cuidados com animais domésticos
- Animais, especialmente cães, são hospedeiros comuns do berne
- Inspecionar regularmente a pele dos animais
- Utilizar coleiras repelentes e produtos antiparasitários
- Levar o animal ao veterinário ao menor sinal de lesão
Controle ambiental
- Reduzir a presença de moscas no ambiente por meio de armadilhas, telas de proteção e eliminação de lixo orgânico
- Manter os ambientes limpos e evitar acúmulo de fezes ou matéria orgânica em decomposição
Referências bibliográficas:
CAPES - Miíase humana: Caso clínica
CDC - About Myiasis
Medscape - Myiasis
MSD Manual - Cutaneous Myiasis
Centre for Health Protection - Myiasis
Osmosis.org - Myiasis
National Library of Medicine - Myiasis