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Anorexia Nervosa

A anorexia é um distúrbio alimentar que leva a um desejo excessivo e obsessivo de emagrecer

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*Artigo revisado pelo Dr. Fábio Poianas Giannini (CRM 100.689)*

O que é anorexia nervosa?

Anorexia nervosa é um transtorno alimentar em que a pessoa apresenta medo exagerado de engordar, peso corporal muito abaixo do normal e uma percepção distorcida de seu corpo.

Os pacientes com anorexia dão extremo valor ao controle da forma e do peso do corpo, mas de uma forma deturpada, fazendo esforços extremos para não engordar, o que impacta suas vidas de maneira significativa. A fim de evitar ganhar peso ou para seguir emagrecendo, essas pessoas podem limitar, de maneira nada saudável, a quantidade de alimentos que ingerem diariamente.

Quando o indivíduo tem anorexia, muitas vezes enxerga a magreza como principal fonte de sua autoestima. Assim como outros transtornos alimentares, essa doença é capaz de dominar a vida da pessoa e pode ser muito difícil de ser superada.

Mas, com o tratamento correto, o paciente pode conquistar uma melhor percepção de quem ele é, desenvolver comportamentos alimentares mais saudáveis e conseguir modificar algumas das complicações da anorexia nervosa.

A anorexia ocorre com mais frequência em mulheres e meninas. No entanto, homens e meninos têm cada vez mais desenvolvido distúrbios alimentares, possivelmente relacionados a crescentes pressões sociais.

Quais são os principais sintomas?

Na anorexia nervosa, os sintomas e sinais físicos têm ligação com a situação de fome em que o paciente se coloca. O problema inclui ainda questões comportamentais e emocionais relacionadas à uma noção irreal do peso corporal e um medo acentuado de engordar.

Pode ser difícil perceber sinais e sintomas, uma vez que o que é tido como peso corporal baixo difere para cada indivíduo e algumas pessoas podem não parecer serem magras ao extremo. Outro ponto é que muitas vezes os pacientes com anorexia buscam esconder hábitos alimentares, a magreza ou problemas físicos.

Sintomas físicos

Sinais físicos de anorexia podem incluir:

  • Fadiga
  • Insônia
  • Desidratação
  • Aparência magra
  • Intolerância ao frio
  • Tontura ou desmaio
  • Hemogramas anormais
  • Pele amarelada ou seca
  • Baixa pressão sanguínea
  • Ausência de menstruação em mulheres
  • Ritmos cardíacos irregulares
  • Inchaço dos braços ou pernas
  • Descoloração azulada dos dedos
  • Dor abdominal e prisão de ventre
  • Cabelos que afinam, quebram ou caem
  • Pelos macios e felpudos cobrindo o corpo
  • Dentes corroídos e calosidades nas juntas devido ao vômito induzido
  • Extrema perda ou não obtenção de peso esperados para o desenvolvimento

Sintomas emocionais e comportamentais

Na anorexia nervosa, os sintomas comportamentais incluem:

  • Restringir a ingestão de calorias, vomitando após comer (por meio de esforço ou medicamentos)
  • Utilizar, de forma indevida, laxantes, diuréticos ou enemas (método para limpar o intestino)
  • Limitar a quantidade de alimentos ingeridos por dia
  • Exercitar-se fisicamente de modo excessivo e exaustivo

Sinais e sintomas emocionais e comportamentais podem incluir:

  • Irritabilidade
  • Retraimento social
  • Evitar comer em público
  • Interesse reduzido em sexo
  • Humor plano (falta de emoção)
  • Pular refeições com frequência ou recusar-se a comer
  • Olhar no espelho frequentemente à procura de “falhas”
  • Usar muitas camadas de roupas para esconder o corpo
  • Dar desculpas para não comer ou negar estar com fome
  • Reclamar de ter partes do corpo que são gordas
  • Não falar a verdade sobre a quantidade de alimentos ingeridos
  • Receio de ganho de peso que costuma incluir medição do corpo ou pesagens repetidas
  • Adotar regras rígidas para refeições ou rituais, como cuspir o alimento após mastigar
  • Só comer determinados alimentos, em geral os que têm baixo teor de calorias e gorduras

Quais são as causas da anorexia nervosa?

As causas exatas do distúrbio ainda são desconhecidas. O mais provável é que seja uma combinação de fatores psicológicos, biológicos e ambientais:

Psicológico

Alguns pacientes com o distúrbio apresentam traços de personalidade obsessivos-compulsivos que propiciam a adoção de dietas rígidas e a renúncia à comida, apesar da fome. Podem ainda ter uma grande tendência ao perfeccionismo, o que os leva a pensar que nunca são magros o bastante. Também podem ter níveis altos de ansiedade e se envolver em uma alimentação restritiva para diminuí-la

Biológico

Apesar de ainda não estar claro quais são os genes envolvidos, há a possibilidade de que alterações genéticas façam com que determinados indivíduos apresentem risco maior de desenvolver o problema

Ambiental

A cultura moderna dá ênfase à magreza. Muitas vezes, o sucesso e o valor são equiparados a ser magro. A pressão dos colegas pode ajudar a incentivar o desejo de emagrecer, principalmente entre meninas

Fatores de risco para o desenvolvimento do transtorno

A anorexia nervosa costuma ser mais comum entre os adolescentes. Apesar disso, indivíduos de qualquer idade podem desenvolver esse transtorno alimentar, mesmo que seja raro após os 40 anos.

O risco é maior na adolescência por causa de todas as mudanças físicas que acontecem durante a puberdade. Eles podem ainda encarar maior pressão de colegas e ter mais sensibilidade a críticas ou comentários sobre forma corporal ou peso.

Certos fatores ampliam os riscos de anorexia nervosa, o que inclui:

  • Genética: alterações em determinados genes podem ampliar o risco de anorexia em algumas pessoas. Quem tem um parente de primeiro grau (um pai, irmão ou filho) que teve o distúrbio possui um risco maior de ter anorexia

  • Dietas restritivas: adotar uma dieta restritiva é considerado um fator de risco para a pessoa desenvolver um distúrbio alimentar

  • Fome: o cérebro é afetado pela fome, o que resulta em alterações de humor, pensamento mais rígido, redução do apetite e ansiedade. A perda de peso e a fome são capazes de alterar a maneira como o cérebro atua em pessoas vulneráveis

  • Mudanças: alterações na vida são capazes de provocar estresse emocional, o que amplia o risco de anorexia. Pode ser uma nova escola, emprego ou casa, o rompimento de um relacionamento ou a morte ou doença de uma pessoa próxima, por exemplo

Quais são as consequências da anorexia nervosa a longo prazo?

A anorexia pode ter inúmeras complicações, que incluem:

  • Anemia
  • Problemas renais
  • Perda de músculo
  • Nas mulheres, ausência de menstruação
  • Nos homens, diminuição da testosterona
  • Perdas ósseas (osteoporose), o que amplia o risco de fraturas
  • Distúrbios gastrointestinais, como inchaço, constipação ou náusea
  • Anormalidades no organismo, como baixo nível de cloreto, sódio e potássio no sangue
  • Problemas no coração, como ritmos cardíacos anormais, prolapso da válvula mitral ou insuficiência cardíaca

Caso um paciente com anorexia fique gravemente desnutrido, os órgãos dele podem ser danificados como um todo, o que inclui rins, coração e cérebro. Alguns danos podem não ser completamente reversíveis, mesmo quando a anorexia já está sob controle.

Além da série de questões físicas, quem tem anorexia também costuma ter outros transtornos de saúde mental, como:

  • Ansiedade
  • Transtornos de personalidade
  • Abuso de álcool e substâncias ilícitas
  • Transtorno obsessivo-compulsivo
  • Depressão e outros distúrbios do humor
  • Automutilação, tentativas de suicídio ou pensamentos suicidas

Em sua forma mais grave, a anorexia nervosa leva à morte. Isso pode ocorrer de maneira repentina, mesmo se a pessoa não estiver extremamente abaixo do peso.

As mortes muitas vezes são decorrentes de ritmos cardíacos anormais (arritmias) ou instabilidade de minerais como potássio, sódio e cálcio, responsáveis por manter os fluidos no corpo em equilíbrio.

Como é feito o diagnóstico da anorexia nervosa?

Se um médico suspeitar que a pessoa tem anorexia nervosa, ele fará vários exames e testes para tentar identificar um diagnóstico, checar se há complicações relacionadas e descartar outras causas para a perda de peso. Os exames geralmente são:

  • Exame físico: inclui medir o peso e altura do paciente; verificar sinais vitais, como pressão arterial, frequência cardíaca e temperatura; checar se há problemas na pele e nas unhas; examinar pulmões, coração e abdômen

  • Testes de laboratório: inclui um hemograma ou exames de sangue mais específicos para verificar proteínas e minerais, assim como o funcionamento do rim, fígado, tireoide e exames de urina

  • Avaliação psicológica: um profissional de saúde mental deve perguntar sobre sentimentos, pensamentos e hábitos alimentares do paciente. Ele pode ainda ser solicitado a preencher questionários de autoavaliação psicológica

  • Outros exames: raios-X podem ser feitos para verificar a densidade óssea, se há fraturas por estresse ou ossos quebrados ou se há problemas cardíacos ou pneumonia. Um eletrocardiograma consegue verificar irregularidades cardíacas

Anorexia nervosa tem cura? Qual é o melhor tratamento?

A pessoa com anorexia pode se recuperar. Porém, ela corre risco maior de ter uma recaída em períodos de muito estresse ou com situações que desencadeiam gatilhos. Por isso, é importante seguir à risca o tratamento prescrito.

O tratamento geralmente é feito por uma equipe interdisciplinar, que conta com médicos (como o clínico geral e o psiquiatra), nutricionistas e profissionais de saúde mental, todos com experiência em distúrbios alimentares. A educação nutricional e terapia contínua são importantes para uma recuperação sustentada.

O tratamento de pessoas com anorexia costuma envolver:

Hospitalização

Se a vida do paciente estiver em perigo imediato, ele pode precisar de tratamento na sala de emergência de um hospital para problemas como distúrbios do ritmo cardíaco, desidratação, desequilíbrio de sais minerais ou emergência psiquiátrica.

Pode ser preciso hospitalizar o paciente para tratar de complicações médicas, como desnutrição grave, problemas psiquiátricos graves ou recusa contínua de comer.

Restauração do peso saudável

A prioridade do tratamento é devolver o peso saudável ao paciente. A pessoa não tem como se recuperar do distúrbio sem retornar a um peso indicado e adotar uma nutrição adequada. Neste processo, os profissionais envolvidos são:

  • Um médico, que pode fornecer cuidados e supervisionar as necessidades de calorias e ganho de peso do paciente
  • Um psicólogo, que pode trabalhar com a pessoa para desenvolver estratégias comportamentais para ajudá-la a voltar a ter um peso saudável
  • Um nutricionista, que pode orientar o paciente a voltar aos padrões de alimentação regulares, para ajudar a atingir as metas de peso
  • A família, que provavelmente estará envolvida em ajudar o paciente a manter hábitos alimentares normais

Acompanhamento psicológico

Para adolescentes com anorexia, a terapia de base familiar é indicada. O adolescente com anorexia não é capaz de realizar boas escolhas sobre saúde e alimentação e, por isso, esse acompanhamento inclui os pais na ajuda com a realimentação e a restauração do peso do filho.

Outra opção é terapia individual, especialmente para adultos. O principal objetivo é normalizar os comportamentos e padrões alimentares para ajudar a ganhar peso. Também busca mudar crenças distorcidas, responsáveis por manter uma alimentação restritiva.

Medicamentos

Em geral, dentro da linha de contenção psíquica da anorexia, antidepressivos ou outros remédios psiquiátricos são utilizados para ajudar no tratamento, principalmente quando outros distúrbios de saúde mental, como ansiedade ou depressão, estão coexistindo.

Como prevenir a anorexia nervosa?

Não existe uma forma garantida de prevenção da anorexia nervosa. Médicos podem estar em uma boa posição para identificar indicadores precoces de anorexia e prevenir o desenvolvimento da doença. Por exemplo, eles podem fazer perguntas sobre hábitos alimentares e satisfação com a aparência durante as consultas médicas de rotina.

Se você perceber que um amigo ou integrante da família possui autoestima baixa, insatisfação com a aparência e hábitos alimentares rígidos, converse sobre isso com a pessoa. Embora não consiga evitar o desenvolvimento de um distúrbio alimentar, você pode aconselhar o acompanhamento profissional com um psicólogo ou com um psiquiatra.

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