Abordagem requer compreensão, empatia, apoio e ajuda profissional.

O vício em jogos de azar, também conhecido como ludopatia ou jogo patológico, é um problema sério que afeta milhões de pessoas no mundo todo. É caracterizado por um impulso incontrolável de apostar, mesmo diante de prejuízos pessoais, financeiros e sociais.
Trata-se de um transtorno de comportamento classificado como um tipo de distúrbio de controle de impulsos, assim como o vício em substâncias químicas e em álcool. Por isso, é importante saber como ajudar uma pessoa viciada em jogos de azar.
Esse tipo de vício envolve diferentes formas de jogos: cassinos, bingo, apostas esportivas, loterias, jogos online (como o famoso “tigrinho”) e até mesmo jogos informais entre amigos. O aspecto comum entre todos é a aposta de dinheiro ou bens de valor com a expectativa de ganhar mais, embora as perdas sejam frequentes e, com o tempo, crescentes.
Uma pesquisa realizada pelo Departamento de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP) aponta que o Brasil possui uma média de 2 milhões de pessoas viciadas em jogos.
Além disso, outro estudo feito pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) indica que 10,9 milhões de brasileiros fazem uso perigoso de apostas. Desses, cerca de 1,4 milhão desenvolveu vício com perdas significativas.
A ludopatia foi oficialmente reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um transtorno mental no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), reforçando a importância de tratá-la com a mesma seriedade dedicada a outras condições de saúde mental.
Quais são os sinais de que alguém está viciado em jogos de azar?
Identificar o vício em jogos de azar pode ser difícil, especialmente no início, pois muitas pessoas conseguem esconder o problema por um tempo. No entanto, alguns sinais costumam surgir com o desenvolvimento do transtorno:
- Necessidade constante de apostar quantias cada vez maiores para sentir excitação
- Mentir para amigos e familiares sobre o tempo e o dinheiro gastos em jogos
- Negligenciar responsabilidades profissionais, familiares ou sociais por causa do jogo
- Ficar irritado, ansioso ou deprimido quando tenta reduzir ou parar de jogar
- Usar o jogo como forma de escapar de problemas ou aliviar emoções negativas
- Tentar recuperar perdas apostando mais (comportamento de “perseguir perdas”)
- Endividamento, venda de bens ou empréstimos excessivos para sustentar o vício
- Dificuldade em controlar ou interromper o comportamento de jogo, mesmo diante de prejuízos significativos
Dados sobre o vício: quem são os mais prejudicados e quais são as consequências
O número de apostadores e viciados em jogos de azar tem crescido a cada ano no Brasil e no mundo. A facilidade de apostar online em diversas modalidades e as inúmeras casas de aposta que surgem a cada dia colaboram para esse aumento.
Uma pesquisa divulgada pela revista médica The Lancet apontou que 80 milhões de pessoas no mundo estão viciadas em jogos de azar. Os dados mostram que 9% dos adultos e 16% dos adolescentes que apostam em jogos de esporte online têm dependência.
Os números do vício são ainda maiores ao considerar as apostas feitas em cassinos e caça-níqueis pela internet: 16% dos adultos e 26% dos adolescentes.
No Brasil, os altos índices refletem em dívidas: de acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 1,3 milhão de brasileiros ficou com o nome sujo no primeiro trimestre de 2024 devido a apostas na internet.
Segundo cálculos do banco Itaú, os brasileiros gastaram R$ 68,2 bilhões em apostas no último ano. Porém, considerando vitórias e derrotas, os apostadores perderam R$ 23,9 bilhões.
Além disso, uma análise realizada pela Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) revelou que 60% dos brasileiros que já fizeram alguma aposta esportiva perderam dinheiro.
Por que é tão difícil parar de jogar?
O vício em jogos de azar está diretamente relacionado ao funcionamento do sistema de recompensa do cérebro. Durante o jogo, o cérebro libera neurotransmissores como a dopamina, que proporcionam uma sensação intensa de prazer e excitação. Esse prazer imediato cria um ciclo de reforço que leva a pessoa a querer repetir a experiência.
Além disso, os jogos de azar costumam ter pequenas vitórias que mantêm a pessoa motivada a continuar, mesmo quando as perdas são frequentes. Esse mecanismo é extremamente viciante, porque o cérebro associa o comportamento de jogar à possibilidade de recompensa a qualquer momento, o que dificulta o controle racional sobre o impulso.
Outro fator é o efeito psicológico conhecido como “falácia do jogador”, que faz a pessoa acreditar que, após várias perdas, uma vitória está “garantida” ou “próxima”, levando-a a continuar apostando na tentativa de recuperar o que já perdeu.
O jogo ainda pode funcionar como uma fuga emocional para lidar com estresse, solidão, depressão ou ansiedade. A pessoa é capaz de sentir que a aposta é a única fonte de alívio, o que torna ainda mais difícil romper com o comportamento.
Como ajudar uma pessoa viciada em jogos de azar com empatia e respeito
Saber como ajudar uma pessoa viciada em jogos de azar exige paciência, empatia e uma abordagem livre de julgamentos.
É essencial compreender que o indivíduo não está escolhendo conscientemente prejudicar a si mesmo ou os outros, e que está, na verdade, lutando contra um transtorno sério.
Algumas atitudes importantes incluem:
- Ouvir sem criticar
- Demonstrar apoio incondicional
- Evitar sermões ou acusações
- Validar os sentimentos da pessoa, ou seja, reconhecer o sofrimento dela como real e importante
O papel da família e dos amigos no processo de recuperação
A rede de apoio tem um papel fundamental no enfrentamento do vício. Familiares e amigos próximos podem ser uma fonte de motivação, encorajamento e vigilância contra recaídas.
É possível prestar suporte das seguintes maneiras:
- Apoiar a busca por tratamento profissional
- Estabelecer limites claros em relação a empréstimos de dinheiro ou participação em situações que envolvam jogos
- Promover atividades alternativas saudáveis e e ofereçam prazer sem risco, como esportes, artes ou voluntariado
- Evitar deixar dinheiro ou cartões bancários facilmente acessíveis
- Auxiliar na organização financeira, ajudando a estabelecer orçamentos e controlar gastos
- Monitorar recaídas com cuidado e sem agressividade, ajudando a pessoa a retomar o foco
- Apoiar a manutenção da rotina de tratamento, incluindo consultas e reuniões de grupos de apoio
Quando e como incentivar a busca por ajuda profissional
É importante incentivar a busca por ajuda quando:
- A pessoa demonstra perda de controle sobre o jogo
- O vício está causando impacto financeiro, social, emocional ou profissional
- A pessoa tenta parar sozinha, mas não consegue
- O comportamento de jogo está associado a sintomas como depressão, ansiedade ou abuso de substâncias
O incentivo deve ser feito com delicadeza, sem imposição. Algumas estratégias são:
- Sugerir uma conversa com um psicólogo especializado em dependência
- Apresentar grupos de apoio, como Jogadores Anônimos
- Oferecer-se para acompanhar a pessoa nas primeiras consultas, caso ela se sinta insegura
- Mostrar que o tratamento é um sinal de força e cuidado consigo mesma, e não de fraqueza
O que evitar ao lidar com alguém viciado em jogos de azar?
Ao tentar ajudar, é fundamental evitar certas posturas capazes de agravar o problema:
- Não julgar ou ridicularizar a pessoa
- Não ceder a todos os pedidos de dinheiro ou cobrir dívidas constantemente, pois isso pode alimentar o vício
- Não minimizar o problema ou tratar como simples “falta de força de vontade”
- Não pressionar de forma agressiva para que a pessoa pare imediatamente, para não gerar resistência e afastamento
- Evitar ameaças e chantagens emocionais
O caminho para a recuperação é longo e, muitas vezes, marcado por recaídas. Por isso, o apoio consistente é mais eficaz do que atitudes punitivas.
Existe cura para o vício em jogos de azar?
O vício em jogos de azar é uma condição crônica, mas tratável. Assim como acontece com outras formas de dependência, não há uma “cura definitiva” no sentido de eliminação completa do risco, mas existem tratamentos eficazes que permitem à pessoa recuperar o controle sobre sua vida e viver com qualidade.
As abordagens mais utilizadas incluem:
- Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): ajuda a identificar e modificar padrões de pensamento e comportamento relacionados ao jogo
- Grupos de apoio como Jogadores Anônimos: baseados em princípios semelhantes aos dos Alcoólicos Anônimos, oferecem suporte contínuo
- Tratamentos medicamentosos: em alguns casos, podem ser utilizados medicamentos para tratar impulsividade, ansiedade ou depressão associadas
- Intervenção familiar: o envolvimento dos parentes no tratamento consegue aumentar significativamente as chances de sucesso
Embora o risco de recaída sempre exista, muitos pacientes conseguem superar o vício e levar uma vida equilibrada e saudável por meio do tratamento e de um sistema de apoio consistente.
Caso você ou uma pessoa próxima precise de ajuda para lidar com os vícios nos jogos de azar, procure um psicólogo especializado o quanto antes.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
World Health Organization – Gambling
Help Guide – Gambling Addiction and Problem Gambling
Mayo Clinic – Compulsive gambling
American Psychiatric Association – What is Gambling Disorder?
Cleveland Clinic – Gambling Disorder
National Library of Medicine – Gambling Disorder and Other Behavioral Addictions: Recognition and Treatment
Yale Medicine – Gambling Disorder

Escrito por Vale Saúde
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